POR UM ACESSO QUALITATIVO À JUSTIÇA - O PERFIL DA LITIGÂNCIA NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS - DOI: 10.12818/P.0304-2340.2019v75p443

Autores

  • Paulo Eduardo Alves da Silva

Resumo

O acesso à justiça no Brasil continua uma questão pouco compreendida e mal resolvida. A complexidade das questões que o envolve impedem qualquer conclusão categórica a seu respeito. O próprio significado do termo
parece ter sido ilegitimamente alterado após as sequenciais reformas no sistema de justiça e processual feitas nas últimas décadas. A concepção clássica das “três ondas renovatórias”, extraordinariamente influente, cedeu lugar a
concepções de natureza gerencial-eficientista, com medidas de alcance limitado: por maior produtividade que alcance o sistema judiciário, a percepção substancial justiça na sociedade não aumenta. O problema parece exigir melhor compreensão e soluções mais efetivas pela ampliação da perspectiva de abordagem. A idéia de um “acesso qualitativo à justiça” tenta dar conta desta perspectiva. As questões envolvidas não parecem dimensionáveis em termos de quantidade - o volume maior de processos ou a maior produção de decisões, mas em termos de qualidade da justiça alcançada. Mais do que o volume de processos ou decisões, é preciso identificar a natureza das disputas e o perfil dos litigantes que acessam o Judiciário. Antes dos tempos e percentuais de acordos, há que se compreender os comportamentos dos diferentes tipos de litigantes em juízo. A descrição do perfil qualitativo do acesso à justiça nos juizados especiais cíveis, objeto de levantamento empírico divulgado pelo Conselho Nacional de Justiça, oferece dados e subsidiam análises que, se não corroboram integralmente, sugerem fortemente a plausibilidade de um olhar qualitativo sobre o acesso à justiça no Brasil. 


PALAVRAS-CHAVE: Acesso à justiça. Qualidade da prestação jurisdictional. Litigiosidade. Perfil da litigância judicial.

Referências

ABEL, R. The contradictions of informal justice. In: ABEL, R. The Politics of Formal Justice. New York: Academic Press, 1982. v. I.

ALVES DA SILVA, P.E. Gerenciamento de processos judiciais. São Paulo: Saraiva, 2010.

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. 100 maiores litigantes. Brasília: Conselho Nacional de Justiça, 2012.

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Justiça em números 2018. Brasília: Conselho Nacional de Justiça, 2018.

BRASIL. Um novo Código de Processo Civil - Exposição de Motivos do Anteprojeto do CPC. In BRASIL, Código de Processo Civil: anteprojeto. Brasília: Senado Federal, 2010.

BRASIL, Ministério da Justiça. Gestão e funcionamento dos cartórios judiciais. (coord.: Paulo Eduardo Alves da Silva). Brasília: MJ/SRJ, 2007.

CAPPELLETTI, M. e GARTH, B. Access to justice, vol. I – a world survey. Milano: Giuffrée, 1978.

CNJ; ALVES DA SILVA, P. E. (coord.). Perfil do acesso à justiça nos juizados especiais cíveis. Brasília: Conselho Nacional de Justiça, 2015.

CHASIN, A. C. M. Uma simples formalidade: um estudo sobre a experiência dos Juizados Especiais Cíveis em São Paulo. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo, 2007.

CUNHA, A.S.; ALVES DA SILVA, P.E. (coord.) Gestão e jurisdição – o caso da execução fiscal da União. Série Diálogos para o Desenvolvimento, vol. 9. Brasília: IPEA, 2013.

FELSTINER, W. L. ., ABEL, R. L., & SARAT, A. (1980). The Emergence and Transformation of Disputes: Naming, Blaming, Claiming. Law and Society Review, 631–654.

FONTAINHA, F. C.; NUÑES, I. S.; SILVA, P.E.A. Entre o Direito e a Sociedade: entrevista com Bryant Garth. Revista de Estudos Empíricos Em Direito, 3, 267–287, 2016.

GABBAY, D. M., ASPERTI, M. C. A., & COSTA, S. H. Are the Haves Getting Even More Ahead Than Ever? Reflections on the Political Choices Concerning Access to Justice in Brazil in the Search of a New Agenda. FGV Direito SP Research Paper Series, (158), 2017.

GABBAY, D. M., & CUNHA, L. G. (coords.) Litigiosidade, morosidade e litigância repetitiva no judiciário: uma análise empírica. São Paulo: Saraiva, 2012.

GALANTER M. Access to justice and its companions. In BASS, J.; BOGERT, W. A.; ZEMANS, F. H., eds. Toronto: Law and Society. Toronto: [s.e.], 2005.

GALANTER, M. Why the ‘Haves’ Come Out Ahead: Speculations on the Limits of Social Change. Law and Society Review. p. 95-160, 1974, v. IX.

GARTH, B. Brazil and the field of socio-legal studies: Globalization, the Hegemony of the US, the Place of Law, and Elite Reproduction. Revista de Estudos Empíricos Em Direito, 3(1), 2016.

IPEA, Custo Unitário do Processo de Execução Fiscal na Justiça Federal. Brasília: Ipea, 2011.

IPEA; CNJ. Síntese de dados do diagnóstico sobre Juizados Especiais Cíveis – Relatório descritivo. Brasília: IPEA, 2013.

IPEA. Acesso à Justiça Federal: dez anos de juizados especiais. Brasília: Conselho da Justiça Federal, Centro de Estudos Judiciários, 2012.

KRITZER, H. M.; Silbey, S. In Litigation – Do the “Haves” Still Come Out Ahead?. Standford: University Press, 2003.

SANDEFUR, R. L. The Fulcrum Point of Equal Access to Justice: Legal and Non-Legal Institutions of Remedy. Loy. L.A. L. Rev., 42, p. 949, 2009.

SANDEFUR, R. L. Access to justice: Classical approaches and new directions. Access to Justice (pp. ix--xvii). Emerald Group Publishing Limited, 2009 (b).

SANDEFUR, R. L. Access to civil justice and race, class, and gender inequality. Annual Review of Sociology, vol. 34, 2008.

WATANABE, K. (coord.). Juizado especial de pequenas causas (Lei 7.244, de 7 de novembro de 1984). São Paulo: Ed. RT, 1985.

Downloads

Publicado

2019-12-19

Edição

Seção

Artigos